
A Associação Indígena em Contexto Urbano Karaxuwanassu (ASSICUKA), surgiu em Recife a partir da organização de indígenas que vivem em contexto urbano, e foi oficializada no dia 29 de janeiro de 2021.
A ASSICUKA originou-se de uma construção multiétnica, envolvendo representantes de várias etnias de Pernambuco e de outras unidades federativas do Brasil, além de indígenas em processo de resgate e retomada histórico-cultural.
A Associação busca um espaço físico na Região Metropolitana do Recife, e contará com filiais e representações a nível nacional.
Os povos originários do Brasil resistem há mais de 500 anos sobrevivendo ao genocídio e resistindo diariamente aos ataques e retiradas de direitos legítimos. Após vários povos terem sido dizimados completamente ao longo da colonização, a diáspora provocou a dispersão de muitas populações sentido aos centros urbanos, seja fugindo de madeireiros, grileiros, posseiros, garimpeiros, seja buscando condições de sustentar as famílias, após terem suas terras e territórios retirados à força.
Segundo o censo do IBGE de 2010, foram identificadas 305 etnias indígenas no Brasil, as quais somam 274 línguas indígenas. O censo não foi realizado no ano de 2020, por conta da situação grave causada pela pandemia do coronavírus.
Em 2021 o censo é incerto, devido ao recurso que foi aprovado pelo governo Bolsonaro, que corresponde a menos de 30% do que o IBGE declara ser necessário para realizar a pesquisa censitária.

O Estatuto da Associação Indígena em Contexto Urbano Karaxuwanassu (ASSICUKA) reivindica direitos ao território, à saúde e à educação.
Para Ziel Mendes Karapotó, profissional de artes visuais, coordenador geral da ASSICUKA e desde 2015 reside em Recife, “a identificação como indígena em contexto urbano é importante para romper com equívocos e com o déficit de conhecimento sobre os múltiplos contextos em que estamos inseridos. É bacana essa identificação coletiva como indígenas em contexto urbano porque anuncia essas existências e resistências, amplia o olhar e a consciência dessas atuações, desses contextos e da própria configuração do que é ser indígena diante desse imaginário carregado de estereótipos e preconceitos”.
Segundo Ziel, que é indígena em contexto urbano da nação Karapotó, oriunda do agreste alagoano, “Parece que o Estado estabelece uma série de obstáculos e ausências para que essa identificação e articulação dos parentes que vivem em contexto urbano não aconteça. A ASSICUKA é o exemplo disso. Ela surge em meio a esses obstáculos para realmente sinalizar nossa existência e resistência, e buscar os nossos direitos aqui na cidade, não só aqui em Recife, mas auxiliar também os parentes em contexto urbano, principalmente aqueles que quiserem filiar-se à associação, visto que ela tem amplitude nacional. A associação nos garante o respaldo institucional diante da ausência da própria FUNAI, do DSEI, da SESAI, da APOINME”.

Outra liderança indígena é Kyalonan Karawuwanassu, cacica da etnia Karaxuwanassu de indígenas em contexto urbano, ela afirma que “os principais anseios da associação são de promover políticas públicas respeitando as especificidades e diversidades das várias etnias que a compõem. Lutar pelo respeito e pelos direitos dos seus associados e filiados, possibilitando interação com os diversos saberes”.
Kyalonan, também denuncia que “Aos indígenas em contexto urbano são negados os os à educação e à saúde diferenciada, a um emprego digno, geração de renda e políticas públicas que respeitem o nosso modo de ser e viver indígena. E sendo mulheres, além disso, não temos direito a voz nem nos espaços de participação política das mulheres e nem mesmo nos locais que se discutem as especificidades das mulheres indígenas”.
Inúmeras dificuldades são enfrentadas pelos indígenas, como relata a cacica Kyalonan. “Enfrentamos todas as dificuldades sendo homens ou mulheres indígenas em contexto urbano como encontradas nas comunidades indígenas (aldeias), uma vez que nossas vulnerabilidades estão relacionadas a questões socioeconômicas como moradia, água potável, falta de emprego e empregabilidade. Muitos de nós mulheres não encontramos emprego e quando conseguimos, são trabalhos informais ou no setor doméstico. Visto que temos que trabalhar para sobreviver nas cidades, poucos chegam ao ensino superior, e geralmente pelo ensino deficitário só poderemos ar o ensino privado”.
Além dessas questões sociais, os indígenas, sofrem com a invisibilidade, principalmente na questão de gênero. “somos triplamente invisibilizadas, primeiro por sermos mulheres, segundo por sermos indígenas e terceiro por estarmos em contexto urbano. Sofremos todo tipo de preconceito e discriminação por parte daqueles que não compreendem os motivos que nos fizeram migrar para a cidades. E cotidianamente temos que enfrentar o machismo e o patriarcalismo”, explica Kyalonan.
A cacica Kyalonan Karaxuwanassu elenca muitas frentes de luta em busca de igualdade, reconhecimento e valorização nas quais a ASSICUKA se posiciona, sendo majoritariamente direitos básicos já garantidos na Constituição de 1988 e na Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), e que são arbitrariamente negados pelo poder público. “Gostaríamos que tivéssemos o de mulheres indígenas às políticas sociais, que tivéssemos também creches para nossos filhos, para que nós mulheres indígenas pudéssemos ter autonomia na busca por geração de renda, promoção de capacitação para a entrada no mercado de trabalho, empreendedorismo, cooperativismo e outras formas de se ter garantida condições justas para o comércio de seus produtos”.
Kyalonan ainda reforça as reivindicações dos indígenas dizendo que é preciso “impulsionar a agricultura tradicional e familiar, com programas para o financiamento da produção agrícola e a soberania alimentar dentro das cidades. Garantia e ampliação dos direitos de cidadania para atendimento a saúde psicossocial das indígenas em contexto urbano e seus familiares, com sofrimento e/ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Enfim direito à habitação, segurança, saúde e educação diferenciada respeitando as diversidades dentro do contexto urbano”.
Para saber mais e conhecer o trabalho desenvolvido pela Associação Indígena em Contexto Urbano KARAXUWANASSU, e a mídia social da ASSICUKA .
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