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A cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, está respirando cinema, memória e luta popular. Desde a última terça-feira (10), acontece a 10ª edição do CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira, que segue até o próximo sábado (15), com uma programação gratuita que mistura exibições de filmes, rodas de conversa, oficinas, performances e shows.

Espalhado por espaços históricos como o Cine Theatro Cachoeirano, a UFRB, o Largo da Ajuda e a antiga Estação Ferroviária, o festival reúne artistas, realizadores e comunidades para debater temas urgentes por meio da linguagem documental. São vozes que partem de quilombos, aldeias, periferias e movimentos sociais para ocupar as telas e os debates com protagonismo.

Com o tema “Terra e Território”, o CachoeiraDoc exibe 29 documentários brasileiros nas mostras competitivas, entre curtas, médias e longas-metragens. As produções abordam questões como ancestralidade, crise ambiental, espiritualidade, organização comunitária e justiça social.

Entre os destaques estão filmes inéditos como União Sete Flexas (PE) e Meu Caminho até a Escola (RJ), além de obras produzidas por estudantes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Todas as sessões são seguidas de conversas com os realizadores e curadores, fortalecendo o caráter formativo do festival.

Logo na abertura do evento, a emoção tomou conta com a homenagem à sambadeira Dalva Damiana de Freitas, a Dona Dalva, 97 anos, um dos maiores nomes da cultura popular do Recôncavo Baiano. Referência no samba de roda, na religiosidade e na força da mulher negra, ela foi celebrada com roda de conversa e apresentação musical.

A programação vai além do cinema tradicional. O festival promove performances, instalações e experiências visuais que ocupam os espaços públicos e criam novas formas de ver e sentir o mundo. Um dos destaques é a videoinstalação com obras de Ayrson Heráclito, que aborda temas como ancestralidade, transmutação e espiritualidade afro-brasileira.

As rodas de conversa reúnem lideranças negras, indígenas, pesquisadores e artistas de várias regiões do Brasil. Os encontros discutem a ética nas imagens, o papel do audiovisual na preservação da memória e os atravessamentos entre cinema, política e território.

O festival termina no sábado com uma sessão especial que traz filmes marcados por trajetórias históricas e afetivas. Destaque para As Cegas (PB), longa de Antônia Ágape que ficou engavetado por mais de 40 anos, e Exculturas, do baiano Emerson Santos, em homenagem póstuma ao cineasta. Também serão exibidos curtas de realizadores jovens e independentes.

A programação de encerramento conta ainda com apresentação musical ao vivo, reunindo ritmos afro-brasileiros e latinos para celebrar o encontro entre arte e território.