Evento em Salvador reúne lideranças de matriz africana de todo o país para debater democracia, justiça social e enfrentamento ao racismo religioso e ambiental

Nos dias 30 e 31 de maio de 2025, Salvador (BA) sediará o V Encontro Nacional de Mulheres de Axé da RENAFRO, um marco na articulação política e espiritual das mulheres de religiões de matriz africana de todo o país. Com o tema “O matriarcado na luta pela democracia, pelos direitos sociais e justiça climática”, o evento reunirá lideranças religiosas, ativistas, parlamentares e representantes de organizações sociais no Instituto Anísio Teixeira (ITA).

O encontro tem como propósito fortalecer a atuação das mulheres de axé na preservação dos saberes ancestrais e na resistência frente aos impactos do racismo religioso, das desigualdades sociais e da emergência climática sobre os territórios tradicionais.

Entre os destaques do evento, está a participação de quatro casas de axé lideradas por mulheres do Paraná, estado historicamente invisibilizado no debate sobre religiosidades afro-brasileiras. São elas:

  • Ilê Axé Tobi Odé Karê Igbo, representado por Iyalorixá Josiane de Odé e Iyalaxé Izlsabella de Osun;
  • Ilê Axé Iyá Ogunté, com presença de Iyakekere Tatiana de Osun;
  • Ilê Axé Ópó Omim, representado por Iyalorixá Omim e Iyakekere Juliana de Odé;
  • Ilê Afauman, com representação de Ekedji Janaina de Yemanjá.

A presença dessas lideranças rompe com o imaginário excludente de que o Paraná não possui casas de matriz africana e reafirma o papel fundamental das mulheres na condução espiritual, na resistência cultural e no enfrentamento ao racismo religioso no estado.

Segundo levantamento da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná, entre janeiro de 2022 e outubro de 2023, foram registrados 2.336 boletins de ocorrência por intolerância religiosa no estado. Curitiba lidera com 397 casos, seguida por Foz do Iguaçu (109), Londrina (103), Ponta Grossa (87) e Cascavel (79). A maior parte dos registros envolve religiões de matriz africana, evidenciando a urgência de políticas públicas de proteção e visibilidade.

Apesar da invisibilidade institucional, estima-se que existam cerca de 25 mil terreiros no Paraná — aproximadamente 15 mil na região metropolitana de Curitiba e cerca de 7 mil na capital, segundo dados da Associação Nacional Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu). Esses números mostram a força, capilaridade e resistência das religiões afro-brasileiras no estado.

A programação do encontro inclui mesas de debate, apresentações culturais e painéis temáticos, abordando questões como:

  • Racismo ambiental e seus impactos nos territórios de axé;
  • Segurança alimentar e cuidado socioassistencial;
  • Direitos humanos, saúde e o combate à intolerância religiosa.

Estão confirmadas presenças de lideranças como Lúcia Xavier (RENAFRO), Mãe Nilce de Iansã (coordenadora nacional do GT Mulheres de Axé), além das deputadas Daiana dos Santos e Olívia Santana, ambas do PCdoB.

A atividade conta com o apoio da Fiocruz, Ministério da Igualdade Racial, Ministério da Saúde, Koinonia e secretarias estaduais da Bahia.

“Nossa presença em Salvador é um ato de afirmação: o Paraná tem sim terreiros, tem mulheres no axé, e temos voz nas lutas nacionais por justiça social e liberdade religiosa. Representar nossas casas neste espaço é fortalecer todas as mulheres que resistem e fazem do axé sua forma de viver, cuidar e lutar”, afirma Tati Diniz